JUSSARA SILVEIRA . CANÇÕES DE CAYMMI
Jussara Silveira canta Caymmi - Imagem do Estado da Bahia

DORIVAL CAYMMI . 90 ANOS

Dorival Caymmi nasceu em 30 de abril de 1914, em Salvador na Bahia.

Cantor, compositor e violonista, Caymmi já faz parte do panteão de estrelas, dentre os mais importantes "mestres" da música popular brasileira.

Por "tradição" e coração, baiana, mas mineira de nascença, a cantora Jussara Silveira, prestou uma homenagem nesse belíssimo CD "Jussara Canções de Caymmi", lançado em 1998, que já é considerado um dos mais belos tributos ao compositor, que esse ano completa 90 anos.

Capa do CD de Jussara Canções de Caymmi


Ouça ! Adalgisa
Ouça ! Horas
Ouça ! Saudade de Itapoã
Ouça ! Lá vem a Baiana
Ouça ! Maracangalha
Ouça ! O Anjo da Noite



Ouça ! Nem Eu
Ouça ! O Vento
Ouça ! Milagre . História por sinhozinho
Ouça ! Você diz que amar é crime . Vou vê Juliana
Ouça ! Yayá não sabe . Você não sabe amar
Ouça ! Canto de Nanã . Quem vem pra beira do mar






OS POUCOS E OS MUITOS
Por Ariston


Este título, tirado do ensaio do poeta Octavio Paz, que recentemente nos deixou, não está aqui por acaso, mas porque faremos deles, o título, o ensaio e Octavio Paz, um uso indevido.

Um uso, porque abraçaremos algumas das idéias lá colocadas, de que “os homens se reconhecem nas obras de arte porque estas oferecem imagens de sua totalidade oculta” e que “não importa muito que a obra seja lida ao princípio só por alguns: a preservação da memória coletiva por um grupo, embora pequeno, é uma verdadeira tábua de salvação para a comunidade inteira. Nestas tábuas, as tradições e as culturas atravessam os mares do tempo”.

Estas idéias estão opostas, para Paz, aos “assuntos públicos: idéias religiosas e políticas, disputas sobre as crenças e as instituições, movimentos de opiniões… fatos, notícias e nomes…”, que termina seu ensaio, após uma breve análise da difusão da publicação de poemas, constatando um movimento, inverso ao da mercadoria, de pequenas edições a verdadeiros baluartes de culturas nacionais e concluindo que, neste caso, é mais significativa a continuidade que a quantidade de exemplares. “A poesia não procura a imortalidade e sim a ressurreição”.

Indevido, entretanto, porque usaremos suas idéias, não aplicadas à “mudança de sensibilidade e visão” intrínsecas a uma cultura formada e em evolução, mas a uma cultura em formação e a uma manifestação poética pouco ortodoxa: a música popular. “O leitor deve cultivar-se”, concordamos com Paz, mas, em nosso caso brasileiro, cultivar-se sobre que chão? Qual é a nossa “totalidade oculta”? Em que ela se representa?

Alguns devem, com razão, incomodar-se de conviver com os poderosos influxos de culturas do primeiro mundo e nossas chimfrins manifestações de identidade nacional, mas não foi à toa que, no Brasil do pós-guerra, surgiu a necessidade de aprofundar-se a música popular para além da indústria do divertimento. Antes disso, haviam sido plantadas as sementes: Noel Rosa e a consolidação do samba nos meios de massa, Luiz Gonzaga e a invenção de um baião nordestino em pleno centro urbano do Rio de Janeiro, Dorival Caymmi e a construção de uma Bahia mítica e deleitosa. Coisas, hoje, tão naturais. Alguns exemplos de nossa propriedade criativa.

Caymmi, neste sentido, foi um dos nossos artistas mais claros. Um dos que mais voluntaria e deliberadamente trilhou a ponte entre o folclórico e o popular, confessando e aludindo às suas fontes, enquanto as recriava com rara mestria artística. Uma falsa Bahia? Sim, mas também uma representação possível da verdadeira. E não só da Bahia, porque, como Noel e Gonzaga, toca nossa “totalidade oculta”.

Isto não quer dizer que não prossigam os “assuntos públicos”, as vaidades e os divertimentos, elementos que a própria música popular carrega, como produto de massa que é. Mas existe também aí um eixo que sustenta, no tempo, “a preservação da memória coletiva”. Entre nós e na nossa música, os poucos estão entre os muitos. É difícil distingui-los. Estão misturados. Fazem, praticamente, a mesma coisa.

O disco Canções de Caymmi de Jussara Silveira realiza, em sua concepção, uma sutil ligação entre registros anteriores, que serviram de base ao próprio Caymmi, e sonoridades posteriores, deixando Caymmi como ponte, que é, entre nosso passado e nosso futuro e preservando os elementos utilizados por Caymmi em suas criações, seu violão, suas cadências harmônicas.

Jussara Silveira interpreta Caymmi com a densidade e a justeza devidas ao mestre e com a propriedade interpretativa que lhe tem rendido um merecido reconhecimento nestes últimos tempos.

Jussara Silveira atualiza Caymmi naquilo que Caymmi já é atual, ao incorporar gêneros e ritmos posteriores a ele, que contudo não existiriam, da forma que existem, sem ele.

Mas Jussara Silveira não interpreta Caymmi simplesmente. Não atualiza Caymmi simplesmente. De seu trabalho parecem emergir, em conjunto, todas as referências a Caymmi. Ele nos remete, ele nos faz lembrar a antiga Bahia e a nova, candomblés e pescadores, pretos e brancos, os próprios discos de Caymmi, seus filhos, João Gilberto, Carybé, Tom Jobim, Caetano Veloso… Seu trabalho toca aquilo em que Caymmi toca nossa “totalidade oculta”.

Não é à toa que, para isto, Jussara conta com a colaboração de grandes artistas de nossa música: Ronaldo Bastos, Luiz Brasil, Jaques Morelenbaum entre outros.

Canções de Caymmi é, sem dúvida, um disco digno de poucos em nossa música popular.






JUSSARA IN THE BRAZILIAN PRESS




O GLOBO
(Rio de Janeiro daily) June 19, 1998
“Caymmi’s new voice” “Twenty years after Gal, singer Jussara Silveira recreates the Bahian master.”


FOLHA DE S. PAULO
(São Paulo) August 15, 1998
“Jussara Silveira faces down the challenge of a new reading of Caymmi.”


O ESTADO DE SÃO PAULO
(São Paulo) August 18, 1998
“Jussara Silveira affirms her own style in a visit to Caymmi’s songs. The Bahian singer shows character in her treatment of a repertory made classic by the great names of popular music. [...] Her recently launched CD, Canções de Caymmi, reveals her extraordinary voice. [...] Jussara found a personal approach to a magnificent oeuvre: she has no tics, she doesn’t stretch notes into vibratos, switch the tonic emphasis to the wrong syllable or quote other voices now in fashion. She just sings, and sings wonderfully.”


ÉPOCA
(Brazilian news weekly) August 24, 1998
“Cool Jussara Silveira recreates the composer’s classics with class. [...] The singer’s experience contributes to the success of Canções de Caymmi, but her affinity with the material also counts. Jussara demonstrates an intimacy with what she sings – and has the grace, lightness and sweetness that suit the songs. Softly, she ventures into regions lower than usual and interprets each song differently at every repetition. Creativity is also notable in the work of Luiz Brasil, who produced the record and plays a guitar just right for Caymmi – no ornaments, simple, precise and handsome - as are all of the arrangements on the record.”


GAZETA DO POVO
(Curitiba) August 26, 1998
“Jussara Silveira has an impeccable voice on a record with sophisticated arrangements. [...] Jussara enters the market with an excellent CD. [...] A total of 13 songs in which Jussara Silveira reveals competence and a stunning voice in a tour through the universe of the Bahian composer’s universe.”


O DIA
(Rio de Janeiro daily) August 18, 1998
“Jussara Silveira sings fellow Bahian Dorival Caymmi with uncommon elegance. [...] Rarely has Caymmi been so well sung.”


BRAVO
(monthly features and style magazine) October 1998
“With the CD Canções de Caymmi, Jussara Silveira, born in Minas Gerais and brought up in Bahia, found the perfect repertory on which to rest an impeccable voice. Her choice is to all of the Bahias present in the composer’s oeuvre, from love songs to the drums of candomblé. Now she trembles, in classics like Milagre, later she clamors to the nagô world, in Adalgisa. The way the record ends gives the impression that it is endless - Caymmi himself closes the final track, whistling O Vento, which is also the first track – and the suggestion becomes our hope: that Jussara never stops singing Caymmi.”


BAHIAN SONGWRITER - Ariston
THE FEW AND THE MANY

In an essay by Octavio Paz with above title, he wrote that “men recognize themselves in works of art because they offer images of their hidden totality. [...] it does not matter much that the work is only seen by a few at the beginning: the preservation of the collective memory of a group, however small, is a lifeboat for the whole community. Traditions and cultures cross the seas of time on these lifeboats.”

Paz opposes this cultural cargo to “public affairs: religious and political ideas, disputes between beliefs and institutions, movements of opinion... events, news and names...” After a brief analysis of the publication of poetry and how, contrary to the movement of commodities, small editions are bulwarks of national cultures, he concludes that in the case of poetry, continuity is more significant than the number of copies: “Poetry does not seek immortality, but resurrection.”

It is perhaps an unauthorized use, but Paz’s ideas can be transferred from the “change of sensibility and vision” characteristic of a culture that is already formed and evolving to a culture in formation and an unorthodox poetic manifestation: pop music. “The reader should cultivate himself,” Paz writes, but in the Brazilian case, on what ground? What is our “hidden totality”? How does it represent itself?

Rightly, some will feel uncomfortable with the powerful influx of First World culture and our petty manifestations of national identity. Not by chance, the need to take pop music beyond the entertainment industry arose in Brazil in the postwar period. The seeds had been sown prior to this: Noel Rosa and the consolidation of samba in the mass media, Luiz Gonzaga and the invention of the Northeastern baião in the midst of downtown Rio de Janeiro, Dorival Caymmi and the construction of a mythical and delightful Bahia. Things that are so natural now. Examples of our creative attributes.

Caymmi was one of the artists most clearly engaged in wilfully and deliberately building the bridge between folk and pop; he named or alluded to his sources while recreating them with rare artistic mastery. A false Bahia? Yes, but also a potential representation of the real one. And not only of Bahia; like Noel and Gonzaga, he touches our “hidden totality”.

That does not mean that “public affairs”, vanity and fun do not continue; they are part of what pop music carries as a mass product. But there is also an element, here, that “preserves collective memory” through time. Among us and in our music, the few are amidst many. It is hard to distinguish them, as they are mixed together and they do practically the same thing.

Jussara Silveira’s Canções de Caymmi, Jussara Silveira’s CD, comprehends the difference. The CD’s concept makes a subtle link between recordings that went into Caymmi’s own making and later sounds, so that Caymmi remains the bridge between our past and our future, while preserving the elements of Caymmi’s creations, his guitar and harmonic cadences.

Jussara Silveira interprets Caymmi with the density and precision the master deserves and with the aptitude for interpretation that has recently won recognition.

Jussara Silveira brings what is contemporary in Caymmi up to date, using genres and rhythms that came after him but that would not exist in the way they do without him.

But Jussara Silveira does not only interpret Caymmi. Nor does she simply bring him up to the present. Caymmi’s world emerges from her work, as she recalls old and new Bahia, candomblé and fishermen, blacks and whites, recordings by Caymmi himself and his children, João Gilberto, Carybé, Tom Jobim, Caetano Veloso... Her work touches what Caymmi shows of our “hidden totality”.

It is no surprise that, to do all this, Jussara receives contributions from great artists of Brazilian pop: Ronaldo Bastos, Luiz Brasil, Jacques Morelenbaum, among others. Canções de Caymmi is, without any doubt, a record equal to few in our popular music.





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