Revista Veja Rio
(Semana de 16 a 22 de agosto de 1999)

Caymmi bem-posto


Apesar da infinidade de tributos e songbooks dedicados ao compositor Dorival Caymmi, não há dúvida de que ele é o maior intérprete de sua obra. Mesmo assim, algumas dessas releituras podem reservar agradáveis surpresas. Uma delas é o CD Canções de Caymmi, gravado pela cantora Jussara Silveira no ano passado e lançado pelo selo Dubas Música, de Ronaldo Bastos. O trabalho não deve nada a outro belo tributo, Gal canta Caymmi, de 1976. Nascida em Minas e criada em Salvador, a intérprete apresenta o disco durante curta temporada no Teatro Rival, segunda (16) e terça-feira.

Jussara pescou algumas pérolas do universo praieiro de Caymmi sem fugir ao desafio de fisgar composições menos badaladas, como Horas, da trilha da novela Gabriela, e O Anjo da Noite, parceira de Dorival com o filho Danilo. "Queria mergulhar no repertório urbano de Caymmi, mas corri de volta para a praia. Não dá para dissociar Caymmi do mar", conta a cantora.

Ao vivo, as músicas aparecem na ordem do CD, em rebuscados arranjos do violonista Luiz Brasil. Jussara também escolheu cinco canções que, segundo ela, introduzem o universo de Caymmi: Sol, de Arnaldo Antunes e Edgar Scandurra, O Dia que Passou, de Ariston e Toni Costa, Medo da Chuva, de Raul Seixas, Blues, de Péricles Cavalcanti, e O Sol Enganador, inspirada no filme de Nikita Mikhalkov. Preocupada em manter a sutileza do compositor, Jussara encontra o tom exato, sem excessos, em músicas como Vento e Nem Eu. "A simplicidade de Caymmi é aparente. Em dua vasta obra nada é gratuito e intuitivo", diz a cantora.