Gazeta do Povo
- Caderno G Canções de Caymmi Anote na sua agenda: Jussara Silveira. Esse nome ainda vai dar o que falar. A cantora mineira de alma baiana acaba de lançar o segundo CD de sua carreira, Canções de Caymmi (Dubas/WEA), no qual, como o nome já adianta, ela interpreta apenas Dorival Caymmi. São ao todo 13 faixas em que Jussara Silveira passeia com muita competência e uma voz surpreendente pelo universo do compositor baiano. Outro ponto a favor do disco são os arranjos sofisticados de Luiz Brasil (violonista de Caetano e Bethânia). Apesar de desconhecida do grande público, Jussara Silveira com esse disco já pode - e merece - ser colocada no pedestal das grandes intérpretes brasileiras, como Gal Costa, Bethânia, Zizi Possi e companhia. O álbum Canções de Caymmi é uma pequena obra-prima. Jussara Silveira fez a seleção de repertório procurando conciliar as composições mais consagradas de Caymmi com outras menos conhecidas. Deu certo. O equilíbrio do disco dá um sabor musical diferente pois se em determinados momento ouvimos a conhecida "Maracangalha", logo depois descobrimos uma quase esquecida "Você não Sabe Amar". O mesmo acontece com "Saudade de Itapoã" que vem antes de "Adalgisa" ou "Milagre" que surge depois de "Horas", canção da novela Gabriela, gravada pelo Quarteto em Cy, que ganhou uma nova roupagem. O disco saiu com um pequeno erro na capa - que parece será consertado na próxima tiragem. Era para ser Jussara Silveira & Luiz Brasil. A omissão do nome de Luiz foi um acidente. Melhor assim, porque senão seria uma enorme injustiça com o violonista e arranjador do disco. É impressionante a qualidade do trabalho de Luiz Brasil, tanto como instrumentista quanto como arranjador. Em várias músicas ele demonstra que além de excelente técnica, ainda possui criatividade e muito talento. São tantos os bons momentos do disco que fica difícil destacar qual é a melhor faixa ou qual é o melhor arranjo. Além de Luiz Brasil no violão o time de músicos convocados por Jussara Silveira é da melhor qualidade. Zeca Assumpção, no baixo; Carlos Bala, na bateria; Lanlan, percussão; e ainda a participação de Jacques Morelenbam (cello), Paulo Calazans (piano) e Sasha Ambak (acordeon). Um outro detalhe que vale registro são as fotos sensuais que o fotógrafo Bob Wolfenson fez da cantora no encarte do disco. Pés no chão Jussara Silveira, 39 anos, é baiana por genética e mineira por acaso. Seus pais são baianos e ela nasceu em Nanuque, norte de Minas, mas foi criada em Salvador. Apesar da axé music dominar o mercado da Bahia, ela fez a opção por um repertório preocupado com a qualidade musical - mesmo depois de ter cantado até em cima de trio elétrico. "Eu canto o que gosto, e me sinto à vontade", comenta a cantora, que não faz concessões musicais. O início da sua carreira profissional foi num show que realizou no Teatro Castro Alves em 89. "Ali eu decidi a minha vida", conta Jussara. Para ela sua profissão está ligada aos encontros de sua trajetória. "Eu nunca assumi a postura de cantora de frente, para arrastar um público a tirar o pé do chão. Eu quero é botar o pé no chão." Seu primeiro disco, Jussara Silveira, lançado no início do ano passado, foi resultado de uma premiação da cantora num concurso regional patrocinado pela Copene. O repertório foi de novos compositores, mas a circulação foi muito restrita - em Salvador e no Rio de Janeiro - e quase ninguém tomou conhecimento. Canções de Caymmi tem sido bem recebido pela crítica e público. A sugestão do disco foi feita pelo amigo e músico Ronaldo Bastos. Na época ela não se sentiu segura. Mas com a insistência do amigo acabou aceitando a tarefa. Hoje, feliz da vida, a cantora comenta que está superansiosa para saber o que a família Caymmi achou de seu disco. Por enquanto ninguém se manifestou. Mas, otimista, Jussara acha que eles vão gostar e espera contar com a presença de Dorival Caymmi como convidado especial na estréia de seu show, que deve acontecer em meados de novembro no Rio. Ela merece.
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