Correio Braziliense - Janeiro 2009

Um Brasil feminino e comovente

Rosualdo Rodrigues
Da equipe do Correio


Se o Brasil é conhecido como um país musical, pode-se dizer que as mulheres têm desempenhado o papel de levar no gogó tal tradição. Três meninas do Brasil é um espetáculo que celebra tanto a musicalidade brasileira quando essa presença feminina. A identidade nacional está na bandeira que enfeita o chão do palco, no colorido do belo cenário, na sonoridade criada com maestria por Jaime Alem — não por acaso o arranjador mais querido da exigente Maria Bethânia — e no repertório, que vai com naturalidade dos outsiders Tom Zé (Menina amanhã de manhã) e Sérgio Sampaio (Maiúsculo) ao romantismo popular de Márcio Greyck (Impossível acreditar que perdi você) e ao forró, passando pelos imprescindíveis Caetano Veloso (Nu com minha música), Chico Buarque (Ludo real) e Dorival Caymmi (Lá vem a baiana).

E, também, na brejeirice das três protagonistas do show que, felizmente, chega a público mais amplo em DVD — em competente registro dirigido por Daniel Ferro e Rafael Mellin. Colecionadoras de elogios em suas carreiras individuais, Jussara Silveira, Rita Ribeiro e Teresa Cristina se arriscam a confrontar seus talentos no palco e não poderiam conseguir melhor resultado. Até porque têm tudo a seu favor. A começar pela cumplicidade de amigas que são e que se reflete em cena. Em clima descontraído, elas têm números solos, se apresentam em duplas, mas conseguem ser sublimes quando cantam juntas, em uníssono ou em diferentes vozes.

Cada voz com sua peculiaridade, elas se unem em uma harmonia que chega a ser comovente em números como Seo Zé (Marisa Monte, Nando Reis e Carlinhos Brown) e Deixa a gira gira (domínio público), esta última criando espécie de clímax e estrategicamente fechando o roteiro do show. Para quem conhece essas cantoras, Três meninas do Brasil não deveria ser nenhuma surpresa, mas mesmo assim causa impacto. Porque, se individualmente elas são ótimas, juntas conseguem ser ainda melhores.