Correio Braziliense - Janeiro 2009

A união faz a beleza

Encontro entre Rita Ribeiro, Teresa Cristina e Jussara Silveira rende trabalho marcado pela emoção e pela harmonia, em CD e DVD que podem virar show e ganhar turnê nacional

Irlam Rocha Lima
Da equipe do Correio


Rita Ribeiro era adolescente na década de 1980, no Maranhão, e se encantava ouvindo o pai tirando do violão e cantando Três meninas do Brasil, bela canção de Moraes Moreira e Fausto Nilo. Imagens extraídas da letra, como “três corações democratas”, “pela graça da mistura” e “simpatia mulata” ficaram armazenadas na memória afetiva da cantora.

Em dezembro de 2007, quando, junto com Teresa Cristina e Jussara Silveira, Rita idealizou um projeto para inscrever em edital da Caixa Econômica Federal, deram a ele o título de Três meninas do Brasil. Inicialmente fizeram dois shows no Teatro Nelson Rodrigues, no Rio de Janeiro. Ao apresentá-lo em agosto do ano passado no Teatro Municipal de Niterói, foi gravado e ganhou versões em CD e DVD.

Recém-lançado pelo selo Quitanda, da gravadora Biscoito Fino (que deu respaldo para a gravação), Três meninas do Brasil registra o encontro no palco do trio formado por cantoras de diferentes estilos, interpretando juntas, em duos e solos, canções da rica diversidade da música popular brasileira, a partir de sonoridade delineada pelo violonista e maestro Jaime Alem, que assina os arranjos e a direção musical.

“Amiga de Teresa, que, em nossas conversas, costumava me instigar a compor, queria desenvolver um projeto junto com ela. Aí propus o Três meninas do Brasil. Mas faltava uma e convidamos a Jussara, que já havia participado de alguns shows meus e da Teresa. Além disso, éramos fãs do trabalho dela e ela do nosso”, conta Rita. “Elaboramos e formatamos o projeto com o auxílio do jornalista Jean Wyllys, meu amigo, e o inscrevemos no edital da Caixa. Tivemos aprovação e fizemos dois shows no final de 2007, aqui no Rio”, acrescenta.

Na hora de levar o projeto para o palco, Rita, Teresa e Jussara convidaram Jaime Alem. “Ele estava em entressafra no trabalho que desenvolve com a Maria Bethânia e nos honrou ao aceitar o convite. A participação do maestro foi fundamental para que consolidássemos a sonoridade desejada, o tom certo para a interpretação de cada uma. Já havíamos definido o repertório, com 20 músicas, numa escolha feita a partir de 50 canções ouvidas, e também o que cantaríamos juntas, em duos e em solos”, explica a maranhense.

Para definir o repertório, Rita não fez objeção a nenhuma das músicas propostas, pois gostou de todas. A carioca Teresa Cristina diz que “a princípio” tinha certo preconceito em relação Mulher nova bonita e carinhosa faz o homem gemer sem sentir dor, de Zé Ramalho. Achava que o refrão soava estranho. “Bastou, porém, uma primeira audição para perceber com clareza que era uma música linda, com uma história bacana, que ficou bonita com as nossas vozes se misturando.”

Consenso
Segundo Teresa, houve total consenso na hora da definição do repertório. “Cruzando informações, íamos chegando à conclusão do que poderíamos fazer juntas — Menina amanhã de manhã, Seo Zé, Isso aqui tá bom demais, entre outras — e em duos. Já os solos foram propostos por cada uma. Eu escolhi Cantar, uma das minhas músicas mais conhecidas; e Nu com minha música, do Caetano Veloso, fugindo um pouco do universo do samba. A Rita foi de Impossível acreditar que perdi você”, comenta.

Intérprete sofisticada, a mineira-baiana Jussara Silveira, inicialmente, implicou com Poxa, de Gilson, um popular sambão-jóia da década de 1970. “Acreditava que não cantaria Poxa porque costumo interpretar o que faz sentido para mim. Ao fazê-la com a Teresa e a Rita, percebi quer tudo tem sentido. A letra daquela música simples é uma ode à mulher brasileira, ao povo brasileiro”. afirma. Sozinha, ela canta Dama do cassino, de Caetano. Jussara, a exemplo das companheiras, já começou a correr atrás de recursos para viabilizar a turnê nacional de Três meninas do Brasil, a partir de maio.