Correio Brasiliense (01 de fevereiro de 2001)
"O Nome dela é Jussara"
Rogério Menezes
Jussara Silveira é eventualmente resumida, por jornalistas-mais-apressadinhos (o que talvez seja tremenda redundância), a cantora-baiana-do-momento. Dois erros básicos nessa constatação. a) a moça é apenas cantora; apesar de Ter passado grande parte da vida em Salvador, nasceu em Nanuque, Minas Gerais. b) não acabou de chegar, está na estrada há alguns verões.
Sábia, sempre evitou o perigoso e, às vezes, letal convívio com a axé music. A medida, profilática, vai certamente lhe render mais anos de vida - artística. A, digamos, falsa-baiana sempre atuou sem gula, sem pressa de mergulhar no voraz mainstream e, consequentemente, ser triturada por aquela velha máquina-de-fazer-ídolos que, vez em quando, empaca. Econômica e parcimoniosa, aos 40-e-poucos, tem apenas dois CDs gravados, ambos notáveis, ainda, espero, à venda nas boas casas do ramo. O segundo, Canções de Caymmi, lançado em 1999, é rara preciosidade. Quem avisa, amigo 'é: trate de comprá-los, prezado leitor.
Aqueles brasilienses ligados apenas nos novos e velhíssimos baianos e em cantoras-axé-que-mais-saracoteiam-do-que-cantam poderão perguntar, demonstrando injustificado desconhecimento com a moça em questão (e não os culpo por isso): - Jussara quem? Canta em qual bloco no carnaval da Bahia?
Jussara Silveira, Sil-vei-ra, caro leitor, e, lamento informar, não canta em bloco-de-carnaval-da-Bahia algum.
Desde os anos 80, a moça brilha em mostras de som realizadas em faculdades e, depois, em modestos shows em pequenos teatros. Nos 90, aportou em São Paulo, onde cultivou sólida, mas sempre discreta, trajetória artística. Em 1997, lançou o primeiro disco - Jussara Silveira - e entrou oficialmente no rol das grandes cantoras do país, mesmo aqui e ali não conseguindo esconder que ouvira Gal Costa demais na adolescência. Mas tudo bem, nada contra as boas influências.
Ano passado, Maria Bethânia resolveu, sabiamente, fazer show, apresentado em São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador, ao lado de emergentes cantoras baianas, ou quase baianas. Jussara Silveira estava, claro, nesse time.
Jussara Silveira, não que seja preguiçosa, não é daquelas cantoras que fazem musculação para melhorar performances. Não precisa disso. A única arma que empunha é a voz, suave, afinadíssima, cada vez mais lapidadíssimo diamante. A propósito, a moça apresenta espetáculo musical de hoje a domingo, sempre às 20h, no Teatro do Centro Cultural Banco do Brasil. Não perca.
Não, caro leitor, não precisa agradecer, estou aqui pra isso - para indicar pontos de luz, quando existem.