Lisboa, 08/09/2002

FESTA DO AVANTE !


Jussara Silveira é uma bomba de retardador lento prestes a explodir. Quando ela sobe ao palco e começa a cantar, o ambiente fica íntimo como uma pequena praça.

Jussara Silveira é o que se pode chamar uma cantora de classe. A sua formação tem raízes técnicas básicas do canto lírico. Ainda pequena, entusiasma-se com os mestres da bossa-nova e do jazz west coast. A sua voz é doce, suave, possante. Afinadíssima, ela transmite perfeição e o eterno prazer de cantar.

Apesar de só em 1997, já aos 37 anos, ter lançado seu primeiro diasco - Jussara Silveira -, a cantora não era exactamente uma novata. Era, antes, daquelas que seguem o mito da tranqüilidade baiana: “Faço bem aquela linha descansada de beira de praia, mas acho que me dou bem assim”. Assim, sem pressa, Jussara (a quem os amigos chamam de Lady J), vem administrando sua carreira. Só aos 29, fez seu primeiro show profissional na Bahia (antes havia sido vocalista em discos como Outras palavras, de 1981, de Caetano Veloso), com um sucesso assinalável. As pessoas que tiveram a sorte de presenciar os espectáculo perguntavam-se extasiados: porquê só agora?

Foi apenas uma explosão local, é certo, mas abriu-lhe as portas para centros maiores como São Paulo e Rio de Janeiro, com apresentações freqüentes em casas alternativas no início dos anos 90, onde passou a desfrutar prestígio junto a imprensa especializada, que a classificou como cantora cool, filiada à tradição iniciada por João Gilberto em contraposição ao movimento Axé, dançante e suingado, que projectaram Daniela Mercury, Netinho,

Olodum, Ivete Sangalo e outros baianos. Só as editoras não notaram. Inserida no mercado, ainda que de forma independente, Jussara enfrenta rótulo de cantora baiana, que a inércia da produção actual que rotula tudo o que vem da Bahia como tropicalista ou axé music, Jussara passa ao largo de todos estes rótulos. Ela está na dela e a dela é muito mais. Sempre mais.

Depois de ter passeado a sua carreira por caminhos sonoros que incluíam músicos do porte de Chet Baker, Billie Hollyday, Judy Garland, Ângela Maria e Amália Rodrigues, Jussara Silveira resolveu voltar à sua adoptiva praia baiana para encarar a obra do mestre maior da música popular brasileira, Dorival Caymmi, com um trabalho só com canções do autor.

Cantar músicas de Dorival Caymmi é um obejectivo de qualquer intérprete da MPB.

Equivale a um título de mestrado ou doutoramento.
Dificilmente haverá um cantor que não tenha tentado. Sofisticação e simplicidade são características deste espectáculo, que se baseia em Dorival, Jussara Silveira canta uma coisa de praia, de tranqüilidade, de paz. Um elemento indefinível que não existe longe do mar. “É uma coisa brasileira que eu tenho, calma, João-gilbertiana. De um lugar que tem sol, praias, mas é uma coisa diferente dessa loucura que é o carnaval, embora eu também cante no carnaval”, insinua a cantora.