Caderno 2 - Jornal de Angola
Quarta-feira, 11 de setembro de 2002.

JUSSARA

Antonio Cassoma

Jussara Silveira, o sucesso discreto da Música Popular Brasileira (MPB) confessou identificar-se com a “carapinha dura” invocada na música com o mesmo título, do Angolano Teta Lando. A referida música, por ela interpretada no seu mais recente disco, “Jussara”, é na opinião da cantora uma lição de amor próprio.

“Num mundo superficial e denominado pelo consumismo - diz Jussara - é importante sermos nós mesmos”. Para ela, a mensagem contida na música de Teta Lando é para todo o mundo. Em plena época da globalização, disse, o ser humano devia respeitar-se mais a si mesmo.

A música “Carapinha dura” interpretada por Jussara no seu terceiro disco, baptizado com o nome da cantora e que se encontra agora em fase de promoção, é um dos cartões de visita com que a intérprete - suave e penetrante - se quer dar a conhecer o público angolano, prevendo gravar um “vídeo clip” da música, no qual poderá participar o autor original da obra.

Muito influenciada pelo fotográfo Sérgio Guerra, no seu conhecimento sobre angola, país em que diz sentir-se em casa Jussara pretende interpretar nos seus espectáculos o tema “Canta meu samba”, de Paulo Flores.

Jussara Silveira considera-se uma pessoa comum e simples, que tem o previlégio de fazer o que gosta, e viver modestamente disto. “Nesta altura da vida é importante gostarmos das coisas e fazermos aquilo de que gostamos”, disse a cantora que começou a cantar aos 28 anos e conta agora com 43 cacimbos.

Editada pela “Maianga” e produzido por Chico Neves, o seu mais recente disco é uma reconstituição, por meio da música, do triângulo Brasil-África-Portugal, muito importante na história dos povos lusófonos. A obra - estreada em Lisboa no dia 17 de setembro - contém temas populares do Brasil, Angola e Portugal. Com a sua vinda a Angola, a cantora dá continuidade à série de espectáculos de promoção do trabalho, numa ante câmara ao seu lançamento no Brasil, marcado para o próximo mês.
A artista mineira gravou em 1997 o seu primeiro disco por meio de um concurso. No ano seguinte lançou a sua segunda obra discográfica, contendo exclusivamente canções do baiano Dorival Caymmi. Dá agora vida ao disco “Jussara”, sempre num estilo discreto, que combina a simplicidade, delicadeza e rigor na execução, de modo a penetrar fundo nas emoções dos que ouvem cantar, arrancado deles ovações indecifráveis.

O mistério do seu sucesso tem sido objecto de muitas indagações de críticos brasileiros, o que não mancha a unanimidade da recepção positiva das platéias por que ela passa. Quanto ao seu estilo-que ela vai ser “sem exagero nem virtuosismo” - Jussara disse tê-lo descoberto de modo natural, ao notar que o seu cantar, aparentemente tímido transmite muito calor e sentimento.

O disco “Jussara”, segundo a apresentação, foi misturado no Estúdio Nave Por Chico Neves e Daniel Jobim. Com o aval da editora Maianga, o produtor Chico Neves pôde levar o disco para ser masterizado por Adam Ayan em Nova Iorque, Estados Unidos da América, no Gateway Mastering, estúdio em que foram finalizados trabalhos de nomes como Frank Sinatra, B.B. King, Eric Clapton, Bruce Springsteen e Bee Gees.

Assim, o mais recente álbum de Jussara Silveira reafirma a combinação paradoxal: tudo é simples, mas o apuro técnico é extremamente refinado, como o gosto da cantora.