Folha Ilustrada (17 de agosto de 2000)

Maria Bethânia reúne suas afilhadas em Salvador

Cantora baiana celebra 35 anos de carreira em parceria com novas vozes femininas

MARINA MONZILLO

Maria Bethânia está completando 35 anos de carreira e vai comemorar onde mais gosta de estar: em um palco, na Bahia. A cantora se apresenta hoje, às 18h30, na Concha Acústica do teatro Castro Alves, em Salvador, abrindo o projeto Caixa Acústica -0Mulheres, uma série de shows populares em que veteranas da MPB recebem, em parcerias inéditas, outras intérpretes em ascensão.

Em sua festa, Bethânia fez questão de escolher as convidadas: as conterrâneas Vânia Abreu, Jussara Silveira e Belô Velloso -sua sobrinha- e ainda a amiga maranhense Alcione. "Preferi chamar essas meninas baianas a colegas que já estão estabelecidas, consagradas no sul, pois podemos experimentar, brincar no palco", diz a cantora.

Bethânia determinou o repertório, as parcerias, enfim, a estrutura do show: "Em 35 anos, acabei entendendo um pouco de direção artística, afinal, fui aprendiz de diretores como Augusto Boal, José Possi Neto, Fauzi Arap. Além disso, adoro o palco, adoro emendar uma música na outra...", conta.

O show vai ter um pouco de cada período de sua carreira, iniciada em 1964, no espetáculo "Opinião", no teatro de Arena do Rio de Janeiro ao lado de Zé Keti e João do Vale. "Carcará", o clímax de sua interpretação no show-manifesto que fez o público carioca começar a cultuar a futura dama da música, está presente no repertório do show de hoje, assim como canções de compositores que ficaram marcados em sua voz, como Chico Buarque ("Terezinha"), Roberto Carlos ("Fera Ferida") e o irmão, Caetano Veloso ("O Ciúme"). Igualmente sozinha, a diva canta "O Lado Quente do Ser", de Marina Lima e Antônio Cícero, que considera a "canção-símbolo" da homenagem às mulheres.

As "afilhadas" vão despontar no momento de reverência à Bahia com "Bahia com H" e um "pot-pourri" de músicas sobre o Estado. Com Alcione, os duos serão mais constantes. Em duas músicas, elas cantarão a capela.

Bethânia é a madrinha do projeto Caixa Acústica, pois foi pioneira no apoio a apresentações mais baratas para a população de baixa renda. "Temporadas populares sempre fizeram muito mais sentido para mim." A apresentação de hoje será para 5.000 pessoas, com ingressos a R$ 10 e R$ 20.

Desde que participou da primeira edição do Caixa Acústica, em 98, Maria Bethânia se entusiasmou com uma versão dedicada às mulheres. "O Brasil é um país de cantoras", diz. "A cada ano surgem quatro, cinco ótimas intérpretes, por isso acho necessária uma vitrine para elas."