Folha de São Paulo - 14/03/97

Jussara Silveira chega sem pressa


PEDRO ALEXANDRE SANCHES



Apesar de só agora estar lançando seu disco de estréia homônimo, a cantora Jussara Silveira, 37, não é exatamente uma novata. É, antes, daquelas que seguem o mito da tranquilidade baiana. "Faço bem aquela linha descansada de beira de praia, mas acho que me dou bem assim", diz a cantora, que, embora baiana desde pequena, nasceu em Minas Gerais.

Só há oito anos, aos 29, fez seu primeiro show profissional, na Bahia (antes havia sido vocalista em discos como "Outras Palavras", de 81, de Caetano Veloso). Foi uma pequena explosão local, que lhe abriu portas para migrar a São Paulo (e depois Rio de Janeiro, onde mora hoje), com shows frequentes em casas alternativas no início dos anos 90.

Passou a desfrutar de prestígio junto à imprensa especializada, que a classificou como cantora "cool" filiada à tradição fundada por João Gilberto. Só as gravadoras não notaram. CD independente Apenas agora Jussara chega ao CD, graças ao patrocínio cultural da empresa petroquímica baiana Copene.

Ela venceu, no segundo semestre de 1996, o Prêmio Copene de Cultura e Arte, equivalente à possibilidade de gravar e lançar um CD com tiragem de 1.000 exemplares. O disco foi gravado de forma artesanal, no estúdio caseiro do produtor Luiz Brasil. Em São Paulo, o CD é vendido também de forma artesanal, por telefone, e já se encontra em final de tiragem. Jussara afirma que negocia com três selos uma nova prensagem. No trabalho predominam compositores baianos _exceções feitas a faixas de Luiz Melodia ("Congênito"), Chico Buarque ("Ludo Real") e José Miguel Wisnik ("Saudade da Saudade") e a "Só Vou Gostar de Quem Gosta de Mim" (Rossini Pinto), do repertório jovem guarda de Roberto Carlos. De resto, divide-se entre baianos "clássicos" Batatinha ("Espera"), Caetano Veloso ("Dama do Cassino")_ e nomes menos difundidos, como Paquito, Beto Pellegrino, Ariston, Almiro Oliveira e J. Velloso.

Rótulos

Inserida no mercado, ainda que de forma independente, Jussara enfrenta agora o rótulo de "cantora baiana", que a inércia da produção atual manda colocar em uma de duas pontas: a continuação da tradição tropicalista ou a axé music.

Mas ela procura escapar pela tangente. De Caetano, não se lembra de ter interpretado em shows outra canção além de "Dama do Cassino" _antes já editada na coletânea "Elas Cantam Caetano"_, incluída no CD, segundo Jussara, pelo sucesso que costuma fazer em shows. Com a axé music e grupos como É o Tchan, não há aproximação possível. "Muita gente que trabalha com música na Bahia se queixa da ascensão súbita de mil grupos mais populares, mas acho que isso não atrapalha ninguém. As pessoas que dirigem o mercado é que acabam prejudicando, porque não dão espaço para quem não faz aquilo daquele jeito." Ela emenda: "Mas não vou por isso ficar detonando o Tchan, dizer que tomou meu lugar. O Tchan tem o lugar dele, que não tem nada a ver comigo".

Disco: Jussara Silveira
Lançamento: Independente
Quanto: R$ 25
Como adquirir: Tel. (011) 66-4579